sexta-feira, 25 de junho de 2010

Começa em casa, por Daniela Garcia Giacobbo*

Há dois anos, escrevi um artigo para Zero Hora sobre a família, a segurança pública e o medo de perder um filho querido. Nele, pedia por mais segurança e pela punição dos responsáveis pela morte de um amigo dos meus filhos. De lá para cá, vimos mais mortes de jovens, vítimas de assaltos ou ainda de insegurança em festas públicas, mas, também, por acidentes, como as ocorridas na últimas semanas, aqui no Estado.



É fato inegável que a insegurança pública não diminuiu, ao contrário, talvez tenha se agravado pelo aumento do consumo de álcool e de drogas pesadas, estendendo-se às comunidades do Interior, como no caso do jovem morto na última semana em Tramandaí, que teria sido baleado por usuários de crack.



Mas as famílias talvez tenham que fazer um mea-culpa, sem deixarem de contextualizar o problema.



Os nossos jovens vivem em uma época em que não há mais limites, em que tudo parece ser possível, e a diversão e o prazer, às vezes, podem ser fatais. Com a inegável melhora do padrão de vida econômico da sociedade, que tem tido acesso a todos os bens de consumo, da internet aos automóveis, tudo ficou mais fácil. Em Porto Alegre, há festas e eventos praticamente todos os dias da semana, lotados, nem todos inseguros, é claro. Por outro lado, em algumas, há um consumo desenfreado de bebidas alcoólicas e, sendo bem realista, também de drogas, e nota-se uma liberalidade comportamental reinante. Os sites de relacionamento estão aí para comprovar os muitos excessos.



Nesse contexto, sobra pouco tempo para a convivência familiar, com a necessária transmissão dos verdadeiros valores morais. É inegável que vivemos uma crise ética, moral, e os pais, às vezes preocupados com problemas que não os afetam diretamente, dentro das próprias casas, não sabem como fazer frente, apesar da formação moral que têm e dão, a tais apelos que vêm de fora e que, muitas vezes, tiram da convivência os filhos queridos.



Pergunto-me se estamos cumprindo corretamente o nosso papel. Estamos dando o exemplo necessário? A escritora Lya Luft, em seu recente livro Múltipla Escolha (Record, 2010, p. 82), fala que “embora não sendo onipotentes, por tudo isso, somos responsáveis (...) quem ama cuida, quem ama se informa, se interessa”.



Muitas vezes, estamos preocupados com problemas de ordem geral, com as contas públicas, por exemplo, que podem provocar uma possível nova onda de turbulência econômica global, mas não nos preocupamos com as nossas próprias contas, sucumbindo a um consumismo desenfreado. E damos o exemplo negativo.



Nos preocupamos com o aumento do consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens, mas não deixamos de oferecer o primeiro gole. Nos preocupamos com o efeito estufa, com soluções para um desenvolvimento econômico sustentável, mas nos omitimos, ao não pedir aos nossos filhos medidas simples, como o uso racional da água ou para desligarem as luzes quando saem dos quartos. E aí também deixamos de educar.



Quantos de nós têm tempo para uma conversa diária, necessária para saber o que se passa na vida dos nossos jovens e adolescentes? E quantos de nós sabem com quem saem os filhos ou aonde vão? Se a festa é segura, ou se há bebida liberada a menores de idade, ou se há, nesses locais públicos, consumo de drogas?



De nada adianta, por exemplo, clamarmos por uma diminuição da menoridade penal, para efeitos de imputabilidade, se não cuidarmos e acompanharmos de perto a educação e o comportamento dos nossos. De nada adianta a preocupação com a ética e a solidariedade em sociedade, se não a praticarmos dentro da nossa casa. De nada adianta a preocupação com o meio ambiente global, se não tivermos um verdadeiro ambiente familiar.



De 7 a 11 de junho, participei da 1ª Semana Interinstitucional do Meio Ambiente, que tratou de Ética e Solidariedade, promovida pelas instituições Tribunal de Contas do Estado do RS, Tribunal de Justiça do RS, Justiça Militar, Ministério Público do RS, Tribunal Regional Eleitoral do RS, Tribunal Regional Federal da 4ª Região e Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. A palestra que mais me sensibilizou, e não por acaso, foi a do encerramento do evento, do professor Álvaro Bravo, da Universidade de Sevilha, Espanha, conhecedor profundo de questões ambientais e sociais.



Após a apresentação musical de um grupo de índios guaranis, que também falaram sobre a importância da convivência nas tribos e do respeito à experiência dos mais velhos na transmissão dos valores ao grupo, o professor espanhol encerrou a apresentação dizendo que não há como se pensar em uma ética ambiental global, em padrões universais de desenvolvimento econômico sustentável, sem, antes, nos preocuparmos em como atuar dentro das nossas próprias comunidades e, mais especificamente, dentro das nossas próprias casas, modificando hábitos e valores para, assim, nos relacionarmos com o ambiente que nos cerca.



E, neste ambiente, nós, enquanto família, sabemos perfeitamente como agir para mudar.

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